quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Etnografar, o estranhamento e o fascínio na antropologia do consumo


O encantamento do estranhamento. A reação básica do contato com a alteridade que o antropólogo tem, tal qual os nativos do video, cada vez que adentramos, com nossos pés, mãos, bloco de notas e coração, uma nova cultura. E não precisa ser um aborígene para ser o Outro, esse Outro pode ser uma enfermeira me mostrando o cuidado com um paciente terminal, um designer de jogos me mostrando a ludicidade em meio `a tecnologia, ou um alto executivo me mostrando a lógica maluca por meio da qual desenvolve a tomada de decisões numa multinacional.
Me identifico com esse olhar de criança assustada e encantada com a pele diferente do documentarista, que ele quer tocar, com as mãos, o cognitivo e o coração pra entender, pra fazer sentido. Cada pequeno estranhamento de algo que me parecia familiar, como a relação das mulheres do sertão nordestino com o perfume, e os códigos e significados sociais que estão por trás de um simples comportamento de toillete, 
a relação dos homens brasileiros com o carro como marcador social essencial e o que representa o aspiracional, a projeção e o comportamento de consumo moldado desde a infância, com o gosto dos meninos por carrinhos, me tornam o aborígene fascinado com o espelho. Estou vendo a minha cultura, aquela do homem branco, que acho que conheço, como uma miragem, um portal desconhecido por onde estranho e vejo pela perspectiva do estrangeiro, aquilo que os olhos acomodados do senso comum não enxergam. Cada novo texto de uma nova cultura etnografada, um universo que me recebe como criança conhecendo o mundo. 
E conhecendo o Outro, descubro e redescubro a mim mesma a cada dia.